terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Perdas

Há quase 2 anos não escrevia aqui, e assim, de repente, resolvi retomar o blog.
De repente não, porque nada acontece sem um motivo.
Na verdade, a perda de uma pessoa querida me fez ir minguando, sumindo, e deixando esse projeto de lado, e agora, outra perda me fez recorrer ao único alento que conheço: as palavras.
Ainda não consegui transformar a dor atual em letras, mas enquanto espero que isso seja possível resolvi compartilhar um texto sobre alguém que já se foi.
O pai de uma amiga minha faleceu hoje e o sentimento dela me lembrou o mesmo que eu vivi quando perdi meu avô, no início de 2010. Essas palavras são sobre ele.

"Meu avô faleceu há alguns dias e ao receber a notícia não consegui sentir nada.
Nenhum pingo de tristeza ou dor ou saudade.
Apenas uma curiosidade literalmente mórbida, sobre se alguém de sua tão escondida segunda família, havia se pronunciado.
Visitei-o no hospital, quando ainda estava lúcido, mas permaneci poucos minutos no quarto e não o esperei acordar.
Fiquei muito incomodada, não sei porquê. Não consegui falar nada, nem segurar sua mão, nem acariciar sua face.
Permaneci estática e após aproximadamente 2 minutos sai dali.
Estava aliviada porque na visita constatei que ele estava melhor do que haviam me falado e sai do hospital com a certeza de que ele logo iria para casa.
Era um homem forte, batalhador, acreditei que ele fosse melhorar.
Não voltei a visitá-lo antes de retornar para a cidade onde moro.
Antes de ir ao hospital eu estava muito nervosa, angustiada, ansiosa por vê-lo.
Queria saber qual era o real estado de saúde dele, já que não podia confiar nas informações que minha tia dava por telefone.
Ao entrar no carro, vendo meu estado de aflição, minha irmã disse-me que eu estava daquele jeito porque tinha medo dele morrer, e eu, que já não o visitava há mais de 1 ano, não aliviaria meu remorso.
Doeu muito ouvir isso e tive que segurar minhas lágrimas.
Mas será que não é mesmo verdade?
Fui realmente ausente e queria demonstrar, desesperadamente, minha preocupação apesar da negligência.
E não demonstrei.
Fiquei atônita em sua presença.
Talvez por julgar que seria hipocrisia minha demonstrar meus sentimentos apenas pela extremidade da situação.
E ele morreu sem nem saber que eu havia estado naquele hospital.
Sem, talvez, saber que sim, eu o amava.
De um modo distante e retraido.
Não podia frequentar sua casa por motivos que não vêm ao caso.
E fui deixando-o de lado, como se realmente ele só fizesse parte da minha infância.
Fiquei tão feliz por ele ter vindo ao meu casamento. Será que ele soube?

Muitos são os problemas que envolvem a minha relação com a família de minha mãe.
Mas eu gostaria, do fundo do coração, que ele soubesse que apesar de também julgá-lo, eu o admirava.
Um homem que como todos errou em muitas coisas, mas acertou em tantas outras.
Definitivamente, acertou em como ser um bom avô."

Hoje, três anos depois, sinto saudades dele, da sua presença e carinho.
O tempo transforma os sentimentos, joga luz sobre o que realmente importa e deixa em evidência o amor.

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